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A imagem que me inspirou a escrever esse conto.

A imagem que me inspirou a escrever esse conto.

A parte II do conto Demoeste, vida e morte de John Krueger, um canalha. Vemos agora sua conversa com o Diabo. Esse é um conto diferente do que eu costumo escrever. Não tem um tom sério, mas simplesmente descreve a vida de um canalha.

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Ou leia abaixo:

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Kruger não era um bom sujeito, muito menos bonito ou simpático. Se ele atraísse as pessoas por algum motivo seriam masoquistas loucos por refutar qualquer comportamento social sadio. Sentado no saloon, olhando as dançarinas, ele ficava mexendo na pistola e tendo sonhos fálicos com cada uma delas. Colocava as balas no tambor do revólver e imaginava cada tiro como uma intrusão prazerosa nos recantos mais íntimos de tudo quanto é mulher que visse. Esse era o típico pensamento dele e serve como ideia para se entender o motivo de ele ser tão desprezado.

Muita gente subestimava o desprezo que as pessoas sentiam por Kruger, afinal o principal crítico dele era o reverendo Marshall e era muito fácil, fácil demais aliás, o pastor não gostar de alguém. Falando nele, volta-se ao fim do capítulo anterior, quando o homem da religião olhou para o homem da perversão e desejou que o Diabo viesse buscá-lo.

O chifrudo veio, e veio em boa hora, num momento em que Kruger estava meio passado pela aguardente e observando as dançarinas do saloon com mais rispidez do que era aconselhável.

O Diabo parou em frente à mesa do homem, olhou para o círculo de mesas vazias em volta e fez um muxoxo. Provavelmente aquele nem era o Diabo, afinal, por que um homem tão atarefado quanto o Diabo faria uma visita pessoal a Kruger? Ocupado o Diabo era e era até difícil contestar isso quando se olhava para o mar de pecado dentro daquele saloon mesmo. Então o homem de terno preto e camisa branca bem passada que se sentou em frente a Kruger deveria ser um representante, assessor ou, o que é mais apropriado para alguém vindo do Inferno, um advogado.

– Rostos bonitos no palco hoje – comentou, mexendo na cartola branca enfeitada com uma faixa vermelha. Acabara de colocar uma bengala em cima da mesa.

Kruger olhou surpreso para ele. O assessor pensou logo que deveria ter sido reconhecido ou que o homem não gostava de companhia. Na verdade, a surpresa era outra.

– Rosto? Eu tava vendo era só buceta! Mas a mulherada é bonita mesmo.

Aquela afirmação surpreendeu o Diabo ou quem quer que fosse o agente do Inferno. Deu de ombros e pediu uma cerveja para molhar a boca durante a conversa. Talvez o trabalho fosse até mais rápido do que imaginava.

– Gostaria de ter uma delas só pelo resto da vida? – perguntou.

– Ah, não. Mulher dá trabalho demais. Só se vier a buceta e puder dispensar a cabeça… E pra que uma se o bom é a variedade?

– Gostaria de ficar rico e poder ter todas essas mulheres de uma vez só?

Kruger olhou adiante e ficou um bom tempo parado. O Diabo aproveitou para retirar um caderninho do paletó e fazer algumas anotações. Parou quando finalmente a resposta veio.

– O que você disse mesmo?

– Humpf… – suspirou o demônio. – Gostaria de…

– Ah, cê falou de riqueza. Ah, não. Aí vai aparecer um monte de mau elemento para me assaltar! Odeio esse povinho invejoso!

– E viver para sempre?

– Ficar velho e de pau mole depois pra sempre? Não…

O demônio suspirou de novo. Maldições! Parecia que aquele trabalho seria difícil. Pensava em mais uma das propostas básicas e em aumentar a oferta quando…

– Mas eu bem que gostaria de fuder de acordo a Jezebel.

– Daria sua alma por isso? – perguntou o Diabo, pensando naquelas paixões avassaladoras. Já ganhara almas demais com isso. – Daria sua alma pela paixão dela?

– Não…

O Diabo suspirou de novo…

– Não… – continuou Kruger. – Paixão não. Só pra fuder ela mesmo.

Aquilo estava ainda mais fácil. O Diabo aproveitou então para pegar outro caderninho no paletó. Esse era de capa vermelha e fedia enxofre. Olhou nele a lista de pecadores mais próximos e os olhos se arregalaram quando viu quem era Jezebel. Jezebel a Vagina mais Larga do Oeste! Pecados listados: orgias, sadismo, masoquismo, prostituição, ambição, infanticídio, aborto… Virou mais uma página… Assassinato, formação de quadrilha, sedução de homens santos, fornicação em lugares sagrados, sodomia… Outra página… Negação da palavra divina, blasfêmia, incesto, parricídio.

Parou por aí e pensou um pouco. Estava aí uma alma barata ou um cérebro pouco ativo. Estranhou muito a segunda opção, pois o Diabo costumava dizer que Deus ficava com as antas e ele com o pessoal inteligente demais para cair na conversa fiada de um ditador com tendência sadomasoquistas.

– Vamos esclarecer uma coisa… Você venderia sua alma pra foder uma puta?

Normalmente se vê muita coisa no Inferno, mas o Diabo precisou subir à Terra para ouvir aquilo. Ponto pra Deus. Precisava mesmo de imaginação para fazer um sujeito como Kruger.

– Vendo aqui e agora pra fuder a Jezebel.

– Fechemos negócio então – disse o Diabo estendendo a mão.

Quando o demônio fica com nojo de pegar na mão de alguém o caso é sério, mas mesmo assim o negócio foi fechado. John Kruger de fato foderia a Jezebel.